Queremos Gestores Que Pensam o Brasil

Análise Política

Sep 16, 2025

A pesquisa do Movimento Pessoas à Frente com o Datafolha (link abaixo) me trouxe nos últimos dias boas reflexões. Com muita coisa interessante para comentar, hoje quero evidenciar que a sociedade brasileira tem alguma preferência sobre o perfil de liderança no setor público.

Pela quarta vez consecutiva (pesquisas de 2019-21-23-25), formação e experiência na área de atuação aparecem como os critérios mais relevantes no processo de escolha de gestores públicos. Neste ano de 2025, 34% dos brasileiros colocaram esse fator em primeiro lugar, e 59% o incluíram entre os três mais importantes.

Em seguida, ganham destaque as boas relações com a comunidade (51%) e as boas relações com os funcionários (47%). Esses números revelam que, para além do conhecimento técnico, a população valoriza gestores capazes de dialogar com a sociedade e de mobilizar equipes.

Até aqui, um gestor público que reúna tudo isso, em grande medida, já é um achado.

Porém, todavia, entretanto, além disso, 86% consideram importante promover a igualdade de gênero no serviço público, e 89% defendem a promoção da diversidade racial. As pessoas querem gestores sensíveis às questões estruturantes da nossa sociedade.

Esses compromissos são percebidos como fatores concretos de melhoria, pois 82% acreditam que o aumento da diversidade racial fortalece a qualidade dos serviços públicos, e 90% dizem o mesmo sobre o aumento da presença de mulheres.

Esse quadro revela que a confiança da população se ancora em gestores que reúnam competência técnica, legitimidade social e compromisso com o Brasil (com aquilo que nos marca enquanto sociedade).

Difícil de encontrar, né? Sim, em atuação em cargos de liderança é mais difícil.

Mas a profissionalização do setor público existe: pessoas que dedicam suas vidas à melhora do nosso país via interesse público (nas mais diversas carreiras, nos 3 setores).

Elas estão lutando para ocupar cargos de liderança, pois sabem que combinam essas qualidades, e sabem do potencial para fazer acontecer aquilo que precisa acontecer. A Política Nacional de Profissionalização citada na pesquisa ajudaria a valorizá-las.

Para finalizar esta pequena reflexão: há um contraste entre essa expectativa social apontada na pesquisa, e certo discurso que muitas vezes orienta os processos eleitorais, aquele centrado em narrativas de eficiência importadas do setor privado.

É preciso sempre lembrar: o conceito de eficiência é relativo ao projeto que se tem, e um projeto de empresa é substancialmente diferente de um projeto público. Diferente, mas possível de serem complementares, também é bom lembrar.

Se o brasileiro diz valorizar gestores com experiência, preparo e sensibilidade para os problemas públicos, o risco é a incongruência de escolhas políticas que priorizam líderes sem essa formação ou comprometimento, e fazer dos cargos de liderança um lugar estranho à nossa realidade, às nossas necessidades.

O Brasil não carece apenas de gestores que “sabem administrar”, mas de lideranças que entendam os dilemas específicos do país e que atuem com espírito público, integrando técnica, diálogo e diversidade.

Se quiser compartilhar o que pensa a respeito. Eu ainda volto ao assunto numa próxima.

Fonte dos dados pode ser acessada aqui.

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